terça-feira, 6 de outubro de 2015

Video Game High School | #VGHS | Rocket Jump Studios

Dominare, Certa, Perfice

Como seria se vivêssemos em um mundo onde os vídeos games são levados à sério?

Vamos pensar só um instante no típico “nerd”, onde todos associam a imagem de uma pessoa antissocial, trancada em casa, sedentária –nerds americanos– que só come salgadinhos, se enche de refrigerante e passa o dia jogando vídeo game e RPG... Agora vamos imaginar esse tipo de gente DOMINANDO O MUNDO! Um mundo onde os vídeos games são LEVADOS À SÉRIO! É isso aí, com essa imagem que os convido a entrarem no mundo dos vídeos games. Hoje falarei sobre VGHS.


        Estava eu com #Cutrim de boas em casa procurando um filme para assistir –Enquanto Somos Jovens, indicado por um seguidor do blog, meu amigo <3 que será tema da minha próxima resenha– e achamos essa série... Perfeita pra quem gosta de séries e vídeo games, resultado OBRIGUEI ELE A ASSISTIR! Foi a melhor escolha para um tedioso sábado à tarde...

        A série se passa em tempos futuros, onde o vídeo game é considerado o esporte mais sério e popular do mundo –Como o futebol aqui no Brasil ou o Baseball nos EUA– A Vídeo Game High School, é exatamente o que parece, uma escola de elite exclusiva para os gamers, de todo tipo. Só entra na escola quem tem um enorme talento com os games, seja criando novos softwares, seja sendo muito bom em alguma classe de jogos (ou tendo dinheiro suficiente para garantir sua vaga, óbvio). Antes de continuar... Apaguem a imagem típica dos nerds americanos, pois nesta série os personagens não têm nada de antissociais, na verdade eles são as pessoas mais populares e invejáveis. O mundo gira em torno da temática “vídeo games” e só se dar bem quem manja do assunto.


O enredo gira em torno de BrianD, um “iniciante” no mundo do vídeo games, que apesar de possuir bastante conhecimento em jogos, é considerado apenas um noob que conseguiu ganhar nada mais nada menos que o melhor jogador de FPS dos últimos tempos, o The Law, mas não foi apenas vencer em um campeonato de FPS, ELE VENCEU EM UMA TRANSMISSÃO AO VIVO NA TV! Daí vocês já devem imaginar #TheTretaHasBeenPlanted, –foi exatamente isso que Cutrim gritou feito louco–. E a vida segue nesta escola, acompanhando todas a amizades e inimizades, mostrando os dramas comuns da vida de um simples adolescente e sua vida escolar, só que tudo voltado ao vídeo game.


        E agora, a pergunta o de diabos é FPS? É a sigla para “First Person Shooter”, traduzido como “Tiro Em Primeira Pessoa”, um jogo desse tipo é caracterizado por um jogador que controla seu personagem e ver o cenário e tudo ao redor como se observasse pelos olhos do personagem, além do que, é necessária uma arma para o personagem enfrentar os vários inimigos que devem ser derrotados e dar continuidade na campanha.



Enfim a história é muito legal e não vou ficar dando spoilers, até por que a série é curta. Agora vamos aos pontos positivos e negativos que não podem faltar aqui no arquipélago.

- PONTOS NEGATIVOS -


        Eu acompanho a série a pouco tempo, descobri ela bem por acaso mesmo na Netflix, mas desde o primeiro episódio, notei uns furos de roteiro que deixam a história meio perdida. Outra coisa que não gostei foram as paradas abruptas ao final dos episódios. Provavelmente é uma tentativa de deixar-nos na expectativa e ansiedade para o próximo episódio, mas não achei interessante, pois eles param bem no meio da cena e isso me IRRITA MUITO!

- PONTOS POSITIVOS -
        Nem preciso citar que só o fato de ser uma série sobre vídeo games é um ponto que hiper conta para mim. Mas, o que mais me encantou foi o fato das cenas de combate FPS e Drift serem TODAS EM LIVE-ACTION –vomitando arco-íris até o infinito e além– Outro ponto que merece destaque é que os roteiros têm intervenções de roteiristas do Field Of Fire (baseado em Battlefield), ou seja... MUITO TOP!


                        
- CONSIDERAÇÕES FINAIS -
        A série tem suas temporadas disponíveis na netflix, mas é originalmente uma websérie do estúdio Rocket Jump, foi escrita por Matthew Arnold, Will campos e Brian Firenzi; dirigida por Matthew Arnol, Brandon Laatsch e Freddie Wong.
        A primeira temporada, lançada em 2012, conta com nove episódios de 10 a 22 minutos e a segunda, foi lançada no ano seguinte e possui apenas seis episódios de 30 a 44 minutos. A terceira temporada saiu em outubro de 2014 e conta com seis episódios também, que vão de 37 a 66 minutos mais ou menos.
        Além da netflix pode ser encontrada no site oficial da Rocket Jump e no canal oficial do Freddie Wong o “freddiew”, a netflix também disponibiliza uma versão “compacta” chamada VGHS – Movie, que reúne a primeira e segunda temporada. Recomendo ver todas as temporadas, mas se você for tão atarefado como eu, vale dar uma conferida!


- CONCLUSÃO -
        Enfim, eu estou começando a acompanhar a série agora, é muito boa –mesmo com todos clichês– é algo que recomendo quando você estiver sem livro algum para ler, entediado num sábado à tarde, jogado no sofá morrendo de preguiça –isso se você não tiver um vídeo game, por que jogar é realmente mais legal– assista VGHS, vale muito a pena para quem gosta do assunto!
Será que vocês repararam na frase inicial?
Sim, ela é o lema da Video Game High School
Em latim, que significa: DOMINE, LUTE E APERFEIÇOE! Então é isso... Fico por aqui.
Mal feito, feito.
Let. 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Todas as cores | Antologia | Vários Autores


Ícaro Trindade, autor dos best-sellers na Amazon Garoto Á Venda e Compra-se Garoto, organizou uma antologia de contos com protagonistas da comunidade LGBT. O livro conta com vários nomes conhecidos pra quem acompanha literatura LGBT. Vou tentar descrever cada conto e avaliá-lo. A antologia foi lançada no dia 25 de setembro de 2015, se eu não me engano.

Cama de Gato por Nina Gurgel

O conto é narrado em primeira pessoa por Colin, um jovem que só vive para o trabalho. Em meio a sua introspectividade, ele é sempre alvo de brincadeiras pelos colegas de trabalho. Colin começa a receber vários convites para uma feira de “adoção de animais” e começa a ficar muito irritado. Quando ele vai reclamar para o chefe, ele descobre que foi o próprio que deu ordens para o convite.
Eu estava jurando que ele iria encontrar alguém bacana lá ou reencontrar uma velha paixão de infância, mas não. A feira de animais é quase como um mercado sexual e lembrou-me muito Garoto Á Venda por isso. Essa compra de pessoas. Não, não acontece zoofilia. Não totalmente. Isso porque os animais são meio que geneticamente modificados. Na verdade, nem são animais. São humanos que são “produzidos” para serem “animais (sexuais) de estimação”.
Confesso que odiei esse fato. Mas sabe o que é odiar algo. A minha vontade foi de tacar o meu Kindle na parede, mas eu não fiz porque ele foi caro u.u ... Mas como todo leitor é curioso, eu continuei. E me surpreendi. Não sei explicar como a autora fez ou o quê ela fez, mas de alguma forma a história é boa – pra não dizer ótima. Acredito que o ponto forte dos contos é suas personagens carismáticas.
Apesar de seguir os clichês de um homem bom que compra um ser humano, o conto é bastante válido, merece ser lido. As personagens são bastante carismáticas e a autora ainda passa uma mensagem, intrinsecamente, mas passa.
A Nina é autora de Corações Acorrentados, que pode ser adquirido na Amazon por R$ 5,99 ou gratuitamente pelo Kindle Unlimited. Para adquirir o romance da autora, clique aqui

Marine, Breno e Maycon por Clayton Camargo

Eu ainda não entendi como o conto do Clayton pode acrescentar nesta antologia – que não seja no quesito quantidade. A história é narrada em terceira pessoa por Breno, um garoto que fica rico “do nada” e tem um namorado extremamente machista e dominador, Maycon. A história se passa no dia da festa de aniversário de 21 anos de Marine, que é apaixonada por Breno.
A forma com que o narrador onisciente, que pra mim devia ser madura é monótona. Essa coisa de “vou de amar pra sempre como nunca amei ninguém” chega a ser frustrante no conto. Nada parece verdadeiro nele. Se no conto Cama de Gato eu disse que você começa a gostar da história por causa das personagens carismáticas, neste conto você começa a odiar a história pelo mesmo motivo: os personagens.
Breno é o típico garoto passivo submisso que tem o melhor namorado do mundo (lê-se cara “gostoso” – bem entre aspas). Maycon é mais um homem que você por aí. A única diferença de Maycon para qualquer outro personagem ou pessoa real extremamente machista é o fato dele “comer homem”. Mais nada. Eu sempre bato na tecla nas minhas conversas que os romances gays em sua maioria são de fazer os olhos sangrarem. E no conto do Clayton tem tudo que eu critico.
Em minha opinião, um conto assim tá em antologia pra quê? Ele não acrescenta em nada. É mais do mesmo. As frases reproduzidas neste conto são desprazíveis. E o pior. Como é um conto, você tem tudo, absolutamente tudo de clichê nesta curta história. Se um romance muito clichê é cansativo de ler, imagine um conto, em que não há nada de novo ou de surpreendente.
Talvez a coisa mais surpreendente seja o final. Que acaba se eu não me engano com um “...” que define muito bem o conto todo. Iniciado do nada para o nada. Faltou coisa ali ou o autor simplesmente quis “deixar” de ser clichê e não terminar com aquele “... felizes para sempre.”.
Uma nota: Que autor LGBT ainda usa “opção sexual”? Pelo amor. Uma pessoa que reproduz um termo desse não tem crédito nenhum. Hello! Diz-me em que dia tu escolheste ser gay? A única diferença desse conto para todas as histórias reprodutoras de machismo que vemos por aí é o fato dos personagens serem gays. Mais nada. Absolutamente nada.
O Clayton fez sucesso no Wattpad com sua obra, Domínio, caso você queria ler um pouco mais do autor, pode acessar o perfil dele no Wattpad aqui.

Fantasias por William Saints

“Minha pele era perfeita, branca como leite”. Migo, se logo na primeira página eu leio uma coisa dessas, você quer que eu te defenda como? Tá difícil encontrar um conto bom depois de ter lido a fofura que a Nina escreveu, não é?
Sim, tá difícil. Mas digo que o conto Fantasias não é ruim. O conto é o mais erótico dos três primeiros. Isso porque temos um garoto de 17 anos ninfomaníaco que a única coisa que ela pensa é em meter em alguém. O conto faz o seu papel de entretenimento adulto, mas não vai muito longe.
Mesmo com – em minha opinião – criatividade limitada, é perceptível que a escrita do autor é boa. Não há dificuldade em ler a obra. Porém, mesmo como um conto explicitamente erótico, ela tem falhas para o gênero. As cenas não tem riqueza de detalhes e o leitor usa mais sua imaginação para desenvolver as cenas do que a narrativa.
Outro conto que pouco acrescenta. Você lê, bate uma punheta e pula. Nada mais.

Caim por Tom Adams

O Bispo e o Padre seguem a madrugada em suas orgias com os garotos de programa que vêm da capital exclusivamente para atendê-los”.
Tom Adams já é conhecido pelo público LGBT e Meu Deus! Aonde faz pra pedir autógrafo pra esse homem? Eu ri alto com essa citação. Polêmico é pouco pra ele. Mas deixando de lado os estereótipos, vamos ao conto. Eu já li em algum lugar que o Tom é apaixonado por fantasia e gosta de escrever sobre anjos, demônios, essas coisas. Esse conto não é diferente.
O conto é narrado em terceira pessoa e conta a história de Caim, um demônio aprisionado há muito tempo que um dia jurou retorno. A história tem uma narrativa gostosa e maravilhosa que lembra os outros livros do Tom. A narrativa é sanguinária e nada infantil. O modo como o demônio se vinga de duas pessoas é “maravilhoso”. Meu Deus! Eu gostei das mortes.
A cena mais engraçada foi no terceiro ato do conto quando Caim, o demônio, cantarola para uma criança uma música bem diabólica até ela adormecer sem vida. Gente! O demônio é do bem, fez a criança morrer sem sofrer e o que foi aquela música. “... E sua vida irei ceifar”. Além e assassino, o demônio ainda é cantor. Eu ri muito disso. Sim, eu não presto!
Eu estava gostando de tudo, tudo mesmo... Até chegar ao final. Sei lá, pra mim as coisas aconteceram tão rápidas que ficaram sem nexo. Talvez por ser um conto a história não pode ser mais trabalhada. Porém, acredito que algumas coisas aconteceram fáceis demais. Leiam para descobrir.
Tom Adams é um autor famosíssimo no Wattpad e os seus livros são um dos melhores. O meu preferido até o momento “Hey, Professor”, tem lançamento previsto para 2015. Caso queria acessar seu perfil no Wattpad, clique aqui.

O Primeiro Beijo por Robson Gabriel

O conto do Robson Gabriel é nostálgico. Lembre-se dessa gostosa palavra: nostalgia. Lembre-se do seu primeiro beijo. Para aqueles que tiverem uma boa experiência, lembrem-se dela. Para aqueles que não tiveram, lembrem-se do primeiro beijo que valeu a pena.
Robson narra em primeira pessoa o primeiro dia de aula de Sam e logo depois narra um encontro da personagem com Andrew, um americano que mora no Brasil, que esbarrou em Sam no primeiro dia de aula e que depois se tornaram amigo. HAHAHA Sim, foi isso mesmo que aconteceu.
Mas por mais que isso soe clichê – até demais porque pelo amor – acredito que a história é válida para um conto. Até porque, lemos ficção para sair da nossa realidade de não ser notado pelo crush/senpai. E por mais que a narrativa seja monótona no início, ela é bem trabalhada. O autor consegue passar a experiência do personagem no primeiro dia de aula, a empatia e a confiança que um aluno novo sente em um desconhecido que daqui há uns anos será seu melhor amigo.
Afinal, uma amizade surge do nada, não é? O Samuel não é uma personagem carismática em minha opinião, e é um tanto hipócrita em suas palavras algumas vezes, mas eu cheguei a sentir a sua “dor”. A situação que Samuel passa em determinada parte do conto é um banho de água fria naqueles que não querem lembrar suas experiências ruins. O autor consegue descrever parte dos sentimentos que são realmente sentidos em situações como aquela, sem tirar nem por, ou exagerar.
Robson é autor do livro Imperfeito, primeiro de uma trilogia e você pode encontra-la para comprar na Amazon clicando aqui.

Vestígio por Yule Travalon

Eu tenho muito pouco pra falar do conto da Yule. Meu Deus! Quero mais. O conto é tão poético e lírico. Eu não consigo encontrar palavras para descrevê-lo. Apenas leiam. Vocês vão adorar.
O conto é narrado em primeira pessoa e conta tudo o que o Allan fez nosso maravilhoso narrador sentir. A descrição dos sentimentos é surreal de tão perfeita. Como eu falei: poética, lírica. Em todo momento que li senti uma voz doce narrando em minha mente. As palavras soaram tão bonitas para mim. Senti-me como se tivesse lendo obras do romantismo.
E a forma como a autora fechou. Parabéns! PARABÉNS! P A R A B É N S!
Se não fosse pelo conto da Nina – o melhor –, estaria disputando o primeiro lugar com o conto do Sr. Adams.
A autora escreveu o livro Vênus em Touro que está disponível na Amazon. O meu Vênus é em Áries (Mas eu presto, viu!). Se você quiser comprar o livro da autora clique aqui.
Ela também tem um blog que o endereço é: http://dafrutaquevocegosta.blogspot.com.br/

Laços de Amor por Marja

A premissa do conto me dizia que o conto tinha tudo para ser o melhor. Eu falei que o conto usa o termo “opção sexual”. Meu amor, não tem como deixar isso ser usado em pleno século XXI, ano de 2015! Mas enfim... Tirando isso, tem apenas mais um errinho. Por que o hot? Não precisa. Foi desnecessário. O conto seria perfeito se esses dois fatos fossem corrigidos.
O conto conta a história de Ralf, um cara homossexual que namora Augusto. Ralf está visitando seu irmão, Maurício, para comemorar o noivado do irmão com Margarida, sua cunhada. Tudo está indo bem até o irmão de Margarida aparecer.
E entre muitos achismos, mentiras e segredos, o conto desenrola de uma forma gostosa a relação das personagens. Eu consegui imaginar tudo. A descrição chega a ser quase perfeita. Eu enxerguei a cena e confesso que senti vontade de viver um pouco daquilo.
Ponto para Margarida. Ela é maravilhosa. MARAVILHOSA. M A R A V I L H O S A.

Já te vi antes? Por Icaro Trindade

E pra fechar com chave de ouro, temos o conto do Icaro. Gente, como o conto é divertido. Essa é a palavra: divertido. O Daniel é tão narcisista que chega até ser engraçado o jeito que ele narra. Meu Deus! Como eu odeio o Lucas e o Patrick. Gente, tem que ter uma lei pra matar todas as bichas Patrick’s do mundo. Essas “melhores amigas” não prestam, viu?
Daniel vai narrando a sua história de azar. Demitido, assaltado, traído pelo namorado e expulso de casa, Daniel vai para o interior, afim de morar com a mãe para se consolar. Em meio há um tempão pedindo carona e não conseguindo nada, Daniel recebe a ajuda de Ricardo.
Ricardo e Daniel “se conhecem” durante a carona e de acordo com o gaydar de Daniel, Ricardo é gay. A partir daí, Daniel faz tudo para conquistá-lo e suas tentativas são sem sucesso.
O conto é muito divertido. A narrativa e escrita se completam em uma harmonia que me fez querer que o Daniel se desse bem, apesar dele ser ariano ou leonino – Sim, gente! Não tem como esse ‘ser’ ter outro signo solar. Astrologia a parte, o final quebra completamente a narrativa.
Sabe quando você quer que o final seja clichê e feliz, mas acaba que você se depara com a realidade? Doeu. Senti que o autor quis passar uma mensagem. Uma nota: A melhor mensagem entre as dos contos. Porém... Achei forçada. Achei que a mensagem não se encaixava ali, não na narrativa ou no conto. Eu realmente tive a impressão que o final foi forçado. Senti que faltou algo. Não sei muito bem. Talvez seja o meu desejo que esse conto tivesse algum clichê.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Achei a iniciativa muito válida de a antologia querer disseminar a literatura LGBT. Quero parabenizar o Icaro Trindade por organizá-la. Só achei alguns textos sem qualidade nenhuma para estarem em uma antologia. Gente! Sério que vocês não encontraram textos melhores, não?
Fica a dica para uma boa leitura e eu espero que você divirta-se com Caim (lua), Se encante com o Lilo, Sorria bastante com o Daniel, se encante pelo Allan, tenha um beijo tão bom quanto o do Sam e do Andrew e que, agora ou no futuro você tenha uma família tão linda e divertida quando a do Ralf, Augusto, Maurício e Margarida.
Adquira a antologia clicando AQUI.
“... que a sorte esteja sempre em seu favor”.
Gabriel Cutrim

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

CRÔNICA: Memórias que nunca quis ter #1 | Memórias de um eu hipócrita | Gabriel Cutrim

“Os hipócritas não herdaram o Reino dos Céus”. Foi o que sempre ouvi. Não necessariamente de hipócritas, mas de Reino dos Céus. A criança medrosa, que não queria morrer e ir para o inferno era meu passado. A criança que ia todos os domingos para escola dominical e questionava cada letra da Palavra de Deus, também.
Passado... Uma palavra devastadora para mim. Encolho-me nas trevas e solidão ao me lembrar da horrível pessoa que um dia eu fui. E que sou ainda de vez em quando. Odeie-me. Pois é que isso que eu mereço. Falso. Duas caras. Não há ser humano mais horrível que eu. Gestos belos por fora, atitudes malévolas por dentro.
Sou daquele que pensa, reflete, se analisa, critica. Sou daquele tipo, pior que todo mundo, sem talento. Sou sonhador preguiçoso, frustrado demais por não ter forças para seguir adiante. Sou aquele que desiste de tudo que é difícil, para me poupar de tudo, do bom, e do ruim. Sou daquele pessimista, que de tão pessimista, chego até ser um bom homem, porque de tanto preparar você para me conhecer, chego a ser, digo de novo, bom quando você realmente me conhece.
Eu sou uma pessoa ruim. Não sou assassino, não sou estuprador, não sou ladrão. Sou pior que tudo isso. Sou hipócrita. Ou melhor, fui hipócrita. Hoje tento ser autêntico, na confusão de achar o meu eu verdadeiro. Mas o que adianta deixar de ser hipócrita? Um infeliz vai estar sempre com a mão limpa apenas com água para apontar o dedo para o meu passado. Ah, como eu odeio o passado. O pretérito nada perfeito que não te deixa em paz. Ele te leva para sempre. Ou melhor, você o leva para sempre. O passado é como uma sanguessuga. Ele tira um pouco de você até não sobrar mais nada.
Mas eu vim falar de como fui hipócrita. Bem... Em minhas semanas de hipocrisia, vivi como um condenado. Eu não gosto de falar dessa parte de minha vida e com toda licença, leitor, o narrador sou eu e eu narro o que eu quiser. Eu pensei em narrar o que eu sinto hoje do meu eu hipócrita do passado. Estou tentando usar umas palavras bonitas para passar uma mensagem ao mundo. Oh, sim! O quão nobre é o meu gesto de me preocupar com outros hipócritas ignorantes como eu. Chamo-os de ignorantes por causa da falta de conhecimento, veja bem. Eu era um hipócrita ignorante. Não tinha noção de minha hipocrisia e era perturbador pensar em que mesmo naquela época, eu não queria ser hipócrita, mas tentava fazer isso de lado ruim.
Gay. Afeminado. Bichinha. Bichona. Bicherríma – é assim que se escreve?. Pão com ovo e mortadela. Pé de chinelo. Pobre. Preta. Enfim... Eu.
Conseguiu me visualizar? Se sim, aposto que você deve ter um nojo de mim ou deve ter olhado tordo. Não te culpo. Mentira. Culpo-te um pouco. Mas eu já fui assim. Então, todos podem mudar, não é?
Na minha ilusória maturidade de um gay culto de 15 anos e cercado de familiares machistas e das tias que se diziam “liberais”(lê-se ‘reprodutoras de machismo’), é que eu me fiz. Acho que meu texto vai perder a qualidade nos próximos parágrafos, se ele teve qualidade até aqui pois eu vou voltar aos meus 15 anos e escrever da forma mais sentimental possível. Imparcialidade? ‘Cabou’.
“Ser a mulherzinha é muito ruim”; “Você não precisa ser afeminado”; “Não precisa ficar dando pinta”; “Você não é mulher pra fazer coisas de mulher”; “Para de ficar fazendo esse bico e virando o olho”; e muito mais... Minha tia dizia isso pra mim. E eu apenas chorava.
Engana-se quem acredita que eu chorava de culpa, por ser gay ou algo assim. Não. Eu chorava falsamente. Eu chorava porque uma pessoa como eu, magra, fraca, medrosa, jamais daria a cara a tapa pra fugir de casa, brigar com alguém na porrada ou algo assim. Nunca fui corajoso. Eu acho que preferiria à morte a prostituição. Talvez eu virasse mendigo se enfrentasse minha família naquela época.
Eu juro que não quero que você sinta pena de mim, leitor. Não preciso de sua pena. Não agora. Quando eu precisei, eu não escrevia. Meus sonhos sempre foram destruídos pela difícil realidade. Não era ninguém, mas isso não importa. Eu quero que você sinta pena sim, mas não de mim. Quero que você sinta pena dos meus outros eus, que vivem em outros corpos, com outras mentes, mas em situações parecidas. Quero que você sinta pena do diferente. Se você for uma pessoa sem empatia, tá fazendo o quê aqui? Vai embora, esquece. Preciso de pessoas empáticas aqui.
Fugi do assunto, mas voltei. Aqui. Eu passei quase dois anos chorando por tudo, mostrando uma franqueza que eu não tinha. Eu era fraco, sempre fui, mas não de ser sentimental assim. Eu até era, mas não tanto. Um choro forçado, mas bem atuado. Ninguém desconfiava. Nem meu pai, ou meus tios, os vizinhos, ninguém. Minha tia tinha um amigo gay. Como eu o odeio! João era o nome dele. Ele é muito hipócrita. Ele era tão afeminado que meus olhos ardiam de ver tanta “frescura” perto de mim, mas ele odiava todos os homossexuais afeminados. Travesti, trans? Não. Pra ele era bicha poc.
E foi cercado dessas pessoas que a minha mente tornou-se hipócrita. Hipócrita e perturbado. Virei homofóbico. Sim. Gay homofóbico. Que morte horrível. Eu sei. Revirei os olhos agora também.
A minha mente processava que os afeminados eram os culpados de todo mundo odiar os gays. Afinal, eu não ligava pras pessoas na época, só pra mim. Eu, na minha cabeça, iria ficar com o cara que eu apaixonado, branco, rico, saradão, iríamos ter um apartamento em Ipanema e eu ia fazer muito sexo com ele. Na minha cabeça, eu iria ser um advogado de renome e todos iriam engolir minha orientação sexual (lê-se “condição sexual”, ninguém aprende a ser gay, meu amor!) e a minha vida ia ser perfeita. Perfeita pra mim, ao estilo Salazar Sonserina.
Os outros que se fodam. Eu não estava nem aí. Não era comigo. Mas aí que vinha o problema. Toda ação tem uma reação. E a minha era atirar para todos os lados, até para o espelho. Eu era tudo que eu odiava. Eu. A hipocrisia batia no meu salto e percorria meu corpo todo. Eu me odiava. E de alguma forma milagrosa eu sabia disso na época, apesar de não ter me dado conta do verbo “odiar”.
Eu ia para escola, pela manhã e pela tarde, ficava lá jogando meus discursos homofóbicos e direitistas para todos que queriam ouvir. A minha hipocrisia era tamanha que os “viados da escola” falavam comigo e eu cumprimentava para ser educado (lê-se falso), mas logo depois começava minha discriminação. Você, leitor, não tinha noção de como eu sentia raiva quando aquelas bichas dançavam Beyoncé. E sabe por que eu sentia raiva? Inveja. Eles eram livres, eram felizes dançando funk e peformando Beyoncé enquanto eu ficava só olhando e dançando mentalmente porque eu não tinha talento nenhum pra coisa. E mesmo que eu tivesse? Eu não podia dançar. Era proibido não era?
Daí eu acho que eu já era hipócrita, um gay homofóbico. Meu Deus! Como eu odeio pessoas que são como eu antigamente. Sabe... Eu era assim. Mas eu também sofri. Eu não joguei veneno e saí impune, não. Eu morria. Morria por dentro. Morria porque quando eu estava sozinho no meu quarto, no escuro, no travesseiro, eu chorava.
Chorava muito. Chorava horrores. Chorava rios.
Eu chorava porque eu me machucava com as minhas próprias palavras. Eu chorava porque eu tentava ser homem, não hétero, homem e não conseguia. Eu chorava porque não importava o que eu fazia, eu era uma bichinha pão com ovo. Eu até tentei fingir, atuar – eu cursei 5 anos de teatro na escola –, mas não conseguia. Nunca fiz um papel de algo que eu não gostava. Era demais para o meu pouco talento para atuação.
Aí vai uma informação que você, leitor, já sabe há muito tempo: “Fingir o tempo todo cansa”.
E eu fingia o tempo todo quando eu estava com alguém. Eu jamais fui feliz ali. Com meu pai perto de mim então, nunca. Eu não podia falar com a minha prima. Eu tinha que gostar dela, me apaixonar por ela e tudo mais. Acho que a lavagem cerebral funcional porque realmente eu senti algo por ela. Mas coitado de mim, eu não sou homem para casar com mulher empoderada. Não sou. Eu não aguentaria a pressão de perder meus privilégios (por ser homem). Enfim... fui infeliz.
Quando eu estou feliz, eu baixava a guarda. Minha voz era fina, eu “desmunhecava”, enfim, quando eu era feliz eu era viado. Quando eu era feliz, eu esquecia a minha triste vida e curtia aqueles segundos. Mas ao curtir aqueles segundos, eu me dava conta que tinha me esquecido de fingir, e isso era um problema.
Evitei ser feliz.
Evitei mesmo. De propósito. E eu voltava a chorar. Chorava quando alguma tia distante sentava perto de mim e pedia para eu tentar. Chorava quando outra tia cochichava em meu ouvido alguma coisa machista pra eu comentar assim, sem querer, na mesa da família no churrasco e meu pai me abraçar por eu ser macho. Ai, meu Deus! Você nem sabe como eu choro agora escrevendo. É tão difícil escrever sobre mim mesmo.
Dói. Lembranças doem. A ferida era cutucada novamente. Quando me recordo, me dou conta de que a ferida nunca sarou. E eu fico aqui, lamentando a minha hipocrisia, pensando na quantidade de hipócritas ignorantes que existem ainda e sentindo pena de como incompreensão mata. Um dia você cansa de sorrir na rua e chorar em casa.
Mata sim, mata por dentro. O pré-julgamento mata. E enquanto houver um infeliz apontando para alguém que está tentando ser feliz, vai haver um hipócrita ignorante apontando junto e chorando antes de dormir.

Fui hipócrita. Não sei se é graças a Deus, mas digo um “Amém” por ser apenas uma memória.
Crônica escrita por "Gabriel Cutrim".

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Alice no País das Maravilhas (Alice's Adventures in Wonderland) | Lewis Carroll

“POR QUE UM CORVO SE PARECE COM UMA ESCRIVANINHA?”

É com essa pergunta que começo a análise de hoje sobre um dos meus livros favoritos, Alice no País das Maravilhas, um dos mais fascinantes livros já publicados.


Lewis Carrol, ou Chales Ludwidge Dogson, nasceu em 1832 na Inglaterra e morrer em 1898. Um rapaz tímido que crescera em meio a crianças (por isso desenvolver talento especial para contar histórias), filho de um pastor, que se dedicaria à vida religiosa se não fosse sua afeição por geometria, lógica e álgebra; que o fez ingressar na Universidade de Oxford e conhecer Henry Liddell, que viria a ser seu melhor amigo e pai da menina que inspirou o maior marco da literatura nonsense. E o que seria “nonsense”? É um movimento literário muito semelhante aos contos de fadas tradicionais, onde o autor pode fazer acontecer aquilo que ele deseja que aconteça, contrariando as leis da física e biologia – Mas como assim? – Em uma obra nonsense, você pode fazer com que um leão seja convidado por uma cobra para uma xícara de café no ar em meio a uma nuvem carregada, prestes a precipitar gotas de arco-íris sabor baunilha. Ou seja, pode-se recriar o mundo que você quiser sem ter uma explicação lógica e/ou técnica para isso. Pode reúne-se todas as categorias sem precisar de um sentindo no contexto da história; precisa apenas dar um “sabor” a mais a mesma.
E é isto que o leitor vai encontrar neste livro ao deparar-se com as maravilhas do país de Alice.

“Quando decidiu seguir um coelho que estava muito atrasado, Alice caiu em um enorme buraco. Só mais tarde descobriu que aquele era o caminho para o País das Maravilhas, um lugar povoado por criaturas que misturam características humanas e fantásticas, como o Gato, o Chapeleiro e a Rainha de Copas – e que lhe apresentam diversos enigmas...”.


Não definindo público alvo da obra, Carrol cativou tanto as crianças quanto os adultos da época, retratando um mundo onde tudo podia acontecer. Explorando profundamente a lógica e simbologia contida em suas charadas “sem sentido”, afinal para que um sentido? O bom é confundir sonho e realidade.
Muitas pessoas podem se identificar com a menina Alice: curiosa; determinada; teimosa e criativa. Eu mesmo identifico-me muito com ela no quesito curiosidade. A obra em feral, não é destina às crianças. Como já havia dito, Carroll não definiu seu público alvo, mas ela chama atenção principalmente dos pequeninos que tem sua imaginação à mil por hora quase o tempo todo. Mas também um quê de curiosidade em adultos, por mais céticos que sejam. Alice resgata a criança contida em cada leitor que entra em contato com o país das maravilhas.
Logo após entrar na toca seguindo o apressado Coelho Branco e começar a cair durante muito tempo poço abaixo, que possuía paredes cheias de prateleiras, Alice começa a dialogar consigo mesma – Coisa que eu faço muito – e finalmente cai em um galho de folhas secas. A partir de então as coisas ficaram cada vez mais estranhas, coisas como beber um frasco e diminuir de tamanho e comer bolos que a fazer tanto quanto o maior telescópio que já existiu. O leitor já pensa que Alice não poderia ter um dia agitado e estranho quando àquele. Bem melhor que o passar o tempo todo ao lado da irmã que lia um livro sem gravuras nem diálogos. Alice, de certa forma, pensa o mesmo, embora esteja confusa com tanta mudança ocorrida com ela própria.

– “...sei quem era quando me levantei hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde então.”
(Capítulo Cinco – Conselho de Uma Lagarta)

Mais à frente, na leitura, pode-se encontrar muitos personagens que alimentam a imaginação do leitor: como o Camundongo e suas histórias; a Lagarta e suas perguntaras e comentários breves – Um dos meus personagens preferidos, embora eu odeie borboletas –, o Chapeleiro com suas charadas sem lógica, o Gato Risonho – Cheshire <3 – com suas soluções inesperadas e a Rainha de Copas com sua fúria autoritária. Todos cheios de ensinamentos para a pequena Alice, mesmo que ela tenha certa relutância em reconhecê-los.

UM POUCO MAIS SOBRE OS PERSONAGENS

Engana-se aquele que pega o livro e começa a lê-lo achando que Lewis Carroll apenas preencheu as páginas com coisas absolutamente absurdas. Não é bem assim, apesar de ser nonsense, Carroll dez de Alice um meio de transmitir os próprios conhecimentos e vontade e sua própria visão do mundo naquela época. Muitos personagens lembram figuras reais. Muitas destas mensagens devem ser captadas nas entrelinhas, apesar de na maioria das vezes os fatos ocorridos no País das Maravilhas não fazerem sentido algum.
A Pequena Alice, o que poderia representar Alice em meio a todas as coisas malucas que se passam durante a história? Em minha visão particular, ela é metamorfose em si. Uma grande transição de sentimentos, sensações, confusões que uma garota de apenas oito anos pode passar, e não somente isso. É uma mudança que toda uma época precisa passar, tendo de aceitar que nem tudo será como ela está habituada, por isso a relutância de Alice em aceitar alguns fatos, remetendo à dificuldade do homem em lidas com as mudanças.
O Coelho Branco pode ser encarado como a personificação da burguesia na época vitoriana – E de hoje em dia também –. Só Pensando em seus próprios interesses e em seu próprio tempo, pois é dinheiro – ou sua cabeça no lugar por mais um dia.
O Camundongo e o Papagaio, gosto de citar a música “O Velho e o Moço” de Los Hermanos quando lembro dos dois, que contam sua experiências na mocidade e na velhice; onde um, o moço – o Camundongo –, tem  em sua personalidade a autoridade necessária para com os demais, pois suas ideias e experiências “frescas” convencem a todos e o outro, o velho – o Papagaio –, para não perder a autoridade que já foi sua, vê-se obrigado a usar de seu título de mais vencia para tentar exercer a liderança, principalmente sobre Alice, recém chegada e questionadora. O Camundongo pode ser considerado o devaneio de um “jovem líder sem direção” e o papagaio sinônimo de “sabedoria absoluta”.

“– Sou mais velho que você, por isso devo saber mais”.
(Papagaio para Alice. Capítulo Dois – A Corrida-Caucus e uma Longa História).

A Lagarta, minha personagem preferida, encontrada em cima de um cogumelo fumando exageradamente um narguilé. A primeira coisa que faz à Alice quando a encontra é perguntar quem ela é, e Alice até então, depois de tantas mudanças, já não sabe dizer quem é. A Lagarta habituada as mudanças naturais da vida mostra-se completamente indiferente à aflição de Alice em meio a tantas transformações em apenas algumas horas. A Lagarta é a fonte de reflexão em meio a tantos fatos ocorridos em toda uma vida, ela deixa claro que para haver evolução, é preciso mudanças e é preciso adaptar-se a elas. Mudança é uma regra do mundo e deve ser encarada de forma natural, mesmo naqueles que tem medo de mudar ou de abrir mão daquilo que conhece.
O Gato Cheshire, talvez o único personagem com encaixe perfeito em meio a tanta estranheza.

“Bichano de Cheshire”, começou, muito tímida, pois não estava nada certa de que esse nome iria agradá-lo; mas ele só abriu um pouco mais o sorriso. “Bom, até agora ele está satisfeito”, pensou e continuou: “Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?”.
“Depende bastante de para onde quer ir”, respondeu o gato.
“Não me importa muito para onde”, disse Alice.
“Então não importa que caminho tome”, disse o Gato.
“Contanto que eu chegue em algum lugar”, Alice acrescentou a guisa de explicação.
“Oh, isso você certamente vai conseguir”, afirmou o Gato, “desde que ande o bastante”.
Como isso lhe pareceu irrefutável, Aline tentou outra pergunta. “Que espécie de gente vive por aqui?”.
“Naquela direção”, explicou o Gato, acenando com a pata direita, “vive um Chapeleiro; e naquela direção”, acenando com a outra pata, “vive uma Lebre de Março. Visite qual deles quiser:: os dois são loucos.”
“Mas não quero me meter com gente louca”, Alice observou.
“Oh! É inevitável”, disse o gato. “Somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca”.

O gato risonho sabe exatamente o que é e qual seu papel no mundo e pra mim representa a certeza de quem somos, que temos de ter em meio a tanta mudança, em a tanta loucura. – Somos loucos? Então agiremos como loucos sem perder nossa habitual sanidade.
Há ainda a Lebre e o Chapeleiro, quanto mais falo dos personagens mais tenho vontade de não parar de escrever. Para mim a Lebre e o Chapeleiro são os mais normais de todo o livro. Pode parecer estranho, mas no País das Maravilhas os que mais vestem os papéis de loucos são esses dois e, em um louco, o mais normal só pode ser o mais louco. Para mim, estes são o melhor meio de expressar a grande afeição pela lógica e matemática do autor. As charadas do Chapeleiro são repletas de uma simbologia que só Carroll poderia escrever.
E por fim a Rainha de Copas. Este livro é datado da era vitoriana, embora eu creia que a Rainha de Copas não possa retratar uma das maiores representantes políticas de toda uma era, porém, tenho que concordar que a melhor maneira de apresentar a autoridade matriarcal de “líder” de um país “louco” é pondo em “fúria” suas manhas e crenças; além do medo exagerado nas mudanças e coisas que contrariam a vontade da rainha, que também lembra o conservadorismo da Rainha Vitória em relação à família e burguesia – o que explica o tamanho medo e fidelidade do Coelho Branco para com sua rainha – e todo o amor de um povo é também representado pelo receio que o mesmo tem de contrariar a “autoridade” do País das Maravilhas: sua rainha louca.’
Eu odeio resumir uma história tão repleta de acontecimentos e depois de analisa-los numa visão mais crítica. É por isso que não há resenhas minhas até então. Mas também não gosto de SPOILERS então não haverá um resumo completo de todo o livro – LEIAM <3 – Enfim... Como estou resenhando e o Arquipélago já vem com seu padrão de separar pontos positivos e negativos, não mudarei as coisas por aqui.


PONTOS NEGATIVOS

Não vejo neste livro uma grande profusão de pontos negativos, mas há quem diga que é um livro complicado. Talvez pela falta de sentido no contexto da história – Se você for um leitor tradicional e cético demais, deixa Alice no País das Maravilhas na estante em que encontrou. Outro ponto importante de se ressaltar é a grande quantidade de pensamentos filosóficos – Não acho isso um ponto negativo – que pode auxiliar no processo de confusão do leitor que “não se permite”.
Um ponto que pode ser claramente considerado negativo é a “violência” contida neste livro, incorporada na Rainha de Copas e suas constantes ordens de decapitação. A frase mais característica dessa personagem e que todos lembram é: “Cortem-lhe a cabeça”; remete a uma grade aura de raiva e fúrica, porém na época em que foi escrito, esta frase não chocou nem as crianças que tinha acesso, mostrando apenas que os leitores vitorianos não se impressionavam com cenas de violência, sendo advertidos apenas adultos fora das devidas faculdades mentais.
Outro ponto que merece uma atenção é o surgimento de possíveis analogias e críticas que podem surgir do leitor tradicional, tais como: incentivo a pedofilia. Isso não vem do conteúdo do livro em sim, mas do fato da cãoiração do autor por garotinhas entre sete e doze anos de idade e apreço especial por Alice Liddell, inspiração para o livro e para Alice no País do Espelho.
Fora estes pontos, não vejo nenhum em grande relevância que possa fazer o leitor desistir do livro. Até por que ele cativa logo nas primeiras linhas.

PONTOS POSITIVOS

Já elogiei muito o livro ao decorrer do texto, mas agora vêm os pontos que realmente devem ser destacados.
O principal ponto positivo a ser considerado é que não é nada monótono. Apesar de ser literatura nonsense, o livro é muito bem estruturado e tudo ocorre dentro de uma cronologia. O leitor não fica um momento sequer no tédio corriqueiro e nem se perde no espaço-tempo da história, há menos que esta seja a intenção do capítulo. Outra coisa que é válida de ser ressaltada é a facilidade para a leitura. O livro sem i tem uma linguagem leve e de fácil compreensão, que pende ainda mais que o ler.
E como citei apenas três pontos negativos, vou me limitar a citar apenas três pontos positivos, tendo como o último ponto a ênfase na quantidade de conhecimento que pode ser extraído desta leitura, mérito apenas do autor da obra, que impregnou a mesma como sua paixão por lógica e matemática, em cada advinha e charada.

“Dez horas no primeiro dia, nove no seguinte, e assim por diante”. Alice responde: “Nesse caso, no décimo-primeiro dia era feriado”. Ela está certa.
(Capítulo Nove – Diálogo entre Alice e o Grifo).
- Se você conhecesse o Tempo tão bem quando eu – o Chapeleiro falou –, não usaria a palavra desperdício para se referir a ele. Ele não é qualquer um.
(Página 113)

Além do amadurecimento contido e expresso em metamorfoses de uma garota de 8 anos que passa por vários estágios até a chegada da puberdade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alice no País das Maravilhas deve ser um livro que tem que fazer parte da vida de uma pessoa desde a infância. É realmente muito lindo e divertido. Repleto de canções, poesias e histórias, oferece uma leitura tranquila e uma narrativa rica que somente Lewis Carroll pode oferecer dentro desde gênero. É sem sombra de dúvidas um livro que não pode faltar na coleção de qualquer um apaixonado por literatura de qualidade.
O livro já rendeu milhares de cópias e já foi para as telinhas, sendo lançado a primeira em uma curta-metragem no ano de 1903. Logo depois teve muitas versões em animações, sendo a mais famosa lançada em 1951 pela Walt Disney. Além de filmes lançados desde 1912, tanto Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Espelho tiveram inúmeras versões televisionadas até então.
Em 2009 foi lançada uma minissérie com apenas dois episódios na SyFy e o filme atual, Alice no País das Maravilhas lançado em 2010, fora a versão feita em Once Upon a Time “in Worderland”, série do canal ABC. Em breve, mais precisamente em 2016, será lançada uma nova versão de Alice no País do Espelho (ou Alice 2) que eu aguardo com muita ansiedade.
A eterna obra de Carroll também carrega um quê de crítica ao cenário poético tradicional da época despertando o humor absurdo ao poema clássico, isso é uma coisa que me faz amar Alice no País das Maravilhas e indica-lo a quem quer que seja.
Agora... Quanto a pergunta inicial, andaram refletindo? Sabem a resposta para a conhecida “charada sem resposta”? Muitos autores buscaram respostar para até que o próprio Carroll respondeu: “Porque podem produzir algumas notas apenas de muito planas, e nunca são colocados com o lado errado para frente”. Isso não impediu dos muitos leitores buscarem uma resposta própria para pergunta até hoje... E você? Já sabe por que um corvo se parece com uma escrivaninha?
Depois de muito “falar”, resta para as considerações finais insistir que vocês leiam e viagem na Alice para um país maravilhosamente incrível.


DESCULPEM A EMPOLGAÇÃO EXAGERADA. ESPERO QUE TENHAM GOSTADO E QUE EU TENHA LEVADO UM POUCO DE CURIOSIDADE E LOUCURA AS SUAS VIDAS HOJE.

ATÉ A PRÓXIMA
MAL FEITO, FEITO
LET