“POR QUE UM CORVO SE PARECE COM UMA
ESCRIVANINHA?”
É
com essa pergunta que começo a análise de hoje sobre um dos meus livros
favoritos, Alice no País das Maravilhas,
um dos mais fascinantes livros já publicados.
Lewis
Carrol, ou Chales Ludwidge Dogson, nasceu em 1832 na Inglaterra e morrer em
1898. Um rapaz tímido que crescera em meio a crianças (por isso desenvolver
talento especial para contar histórias), filho de um pastor, que se dedicaria à
vida religiosa se não fosse sua afeição por geometria, lógica e álgebra; que o
fez ingressar na Universidade de Oxford e conhecer Henry Liddell, que viria a
ser seu melhor amigo e pai da menina que inspirou o maior marco da literatura
nonsense. E o que seria “nonsense”? É um movimento literário muito semelhante
aos contos de fadas tradicionais, onde o autor pode fazer acontecer aquilo que
ele deseja que aconteça, contrariando as leis da física e biologia – Mas como
assim? – Em uma obra nonsense, você pode fazer com que um leão seja convidado
por uma cobra para uma xícara de café no ar em meio a uma nuvem carregada,
prestes a precipitar gotas de arco-íris sabor baunilha. Ou seja, pode-se
recriar o mundo que você quiser sem ter uma explicação lógica e/ou técnica para
isso. Pode reúne-se todas as categorias sem precisar de um sentindo no contexto
da história; precisa apenas dar um “sabor” a mais a mesma.
E
é isto que o leitor vai encontrar neste livro ao deparar-se com as maravilhas
do país de Alice.
“Quando
decidiu seguir um coelho que estava muito atrasado, Alice caiu em um enorme
buraco. Só mais tarde descobriu que aquele era o caminho para o País das
Maravilhas, um lugar povoado por criaturas que misturam características humanas
e fantásticas, como o Gato, o Chapeleiro e a Rainha de Copas – e que lhe apresentam
diversos enigmas...”.
Não
definindo público alvo da obra, Carrol cativou tanto as crianças quanto os
adultos da época, retratando um mundo onde tudo podia acontecer. Explorando
profundamente a lógica e simbologia contida em suas charadas “sem sentido”,
afinal para que um sentido? O bom é confundir sonho e realidade.
Muitas
pessoas podem se identificar com a menina Alice: curiosa; determinada; teimosa
e criativa. Eu mesmo identifico-me muito com ela no quesito curiosidade. A obra
em feral, não é destina às crianças. Como já havia dito, Carroll não definiu
seu público alvo, mas ela chama atenção principalmente dos pequeninos que tem
sua imaginação à mil por hora quase o
tempo todo. Mas também um quê de curiosidade em adultos, por mais céticos que sejam.
Alice resgata a criança contida em cada leitor que entra em contato com o país
das maravilhas.
Logo
após entrar na toca seguindo o apressado Coelho Branco e começar a cair durante
muito tempo poço abaixo, que possuía paredes cheias de prateleiras, Alice
começa a dialogar consigo mesma – Coisa que eu faço muito – e finalmente cai em
um galho de folhas secas. A partir de então as coisas ficaram cada vez mais
estranhas, coisas como beber um frasco e diminuir de tamanho e comer bolos que
a fazer tanto quanto o maior telescópio que já existiu. O leitor já pensa que
Alice não poderia ter um dia agitado e estranho quando àquele. Bem melhor que o
passar o tempo todo ao lado da irmã que lia um livro sem gravuras nem diálogos.
Alice, de certa forma, pensa o mesmo, embora esteja confusa com tanta mudança
ocorrida com ela própria.
– “...sei quem era quando me levantei
hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias vezes desde então.”
(Capítulo Cinco – Conselho de Uma
Lagarta)
Mais
à frente, na leitura, pode-se encontrar muitos personagens que alimentam a
imaginação do leitor: como o Camundongo e suas histórias; a Lagarta e suas
perguntaras e comentários breves – Um dos meus personagens preferidos, embora
eu odeie borboletas –, o Chapeleiro com suas charadas sem lógica, o Gato
Risonho – Cheshire <3 – com suas soluções inesperadas e a Rainha de Copas
com sua fúria autoritária. Todos cheios de ensinamentos para a pequena Alice,
mesmo que ela tenha certa relutância em reconhecê-los.
UM POUCO MAIS SOBRE OS PERSONAGENS
Engana-se
aquele que pega o livro e começa a lê-lo achando que Lewis Carroll apenas
preencheu as páginas com coisas absolutamente absurdas. Não é bem assim, apesar
de ser nonsense, Carroll dez de Alice um meio de transmitir os próprios
conhecimentos e vontade e sua própria visão do mundo naquela época. Muitos
personagens lembram figuras reais.
Muitas destas mensagens devem ser captadas nas entrelinhas, apesar de na
maioria das vezes os fatos ocorridos no País das Maravilhas não fazerem sentido
algum.
A Pequena Alice,
o que poderia representar Alice em meio a todas as coisas malucas que se passam
durante a história? Em minha visão particular, ela é metamorfose em si. Uma
grande transição de sentimentos, sensações, confusões que uma garota de apenas
oito anos pode passar, e não somente isso. É uma mudança que toda uma época
precisa passar, tendo de aceitar que nem tudo será como ela está habituada, por
isso a relutância de Alice em aceitar alguns fatos, remetendo à dificuldade do homem em lidas com as mudanças.
O Coelho Branco pode ser encarado como a
personificação da burguesia na época vitoriana – E de hoje em dia também –. Só
Pensando em seus próprios interesses e em seu próprio tempo, pois é dinheiro –
ou sua cabeça no lugar por mais um dia.
O Camundongo e o Papagaio, gosto de citar a música “O Velho e o Moço” de Los
Hermanos quando lembro dos dois, que contam sua experiências na mocidade e na
velhice; onde um, o moço – o Camundongo –, tem
em sua personalidade a autoridade necessária para com os demais, pois
suas ideias e experiências “frescas” convencem a todos e o outro, o velho – o
Papagaio –, para não perder a autoridade que já foi sua, vê-se obrigado a usar
de seu título de mais vencia para tentar exercer a liderança, principalmente
sobre Alice, recém chegada e questionadora. O Camundongo pode ser considerado o
devaneio de um “jovem líder sem direção”
e o papagaio sinônimo de “sabedoria
absoluta”.
“– Sou mais velho que você, por isso
devo saber mais”.
(Papagaio para Alice. Capítulo Dois –
A Corrida-Caucus e uma Longa História).
A Lagarta, minha personagem preferida,
encontrada em cima de um cogumelo fumando exageradamente um narguilé. A primeira coisa que faz à
Alice quando a encontra é perguntar quem ela é, e Alice até então, depois de
tantas mudanças, já não sabe dizer quem é. A Lagarta habituada as mudanças
naturais da vida mostra-se completamente indiferente à aflição de Alice em meio
a tantas transformações em apenas algumas horas. A Lagarta é a fonte de
reflexão em meio a tantos fatos ocorridos em toda uma vida, ela deixa claro que
para haver evolução, é preciso mudanças e é preciso adaptar-se a elas. Mudança
é uma regra do mundo e deve ser encarada de forma natural, mesmo naqueles que
tem medo de mudar ou de abrir mão daquilo que conhece.
O Gato Cheshire, talvez o único personagem
com encaixe perfeito em meio a tanta estranheza.
“Bichano de Cheshire”, começou, muito
tímida, pois não estava nada certa de que esse nome iria agradá-lo; mas ele só
abriu um pouco mais o sorriso. “Bom, até agora ele está satisfeito”, pensou e
continuou: “Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora
daqui?”.
“Depende bastante de para onde quer
ir”, respondeu o gato.
“Não me importa muito para onde”,
disse Alice.
“Então não importa que caminho tome”,
disse o Gato.
“Contanto que eu chegue em algum
lugar”, Alice acrescentou a guisa de explicação.
“Oh, isso você certamente vai
conseguir”, afirmou o Gato, “desde que ande o bastante”.
Como isso lhe pareceu irrefutável,
Aline tentou outra pergunta. “Que espécie de gente vive por aqui?”.
“Naquela direção”, explicou o Gato,
acenando com a pata direita, “vive um Chapeleiro; e naquela direção”, acenando
com a outra pata, “vive uma Lebre de Março. Visite qual deles quiser:: os dois
são loucos.”
“Mas não quero me meter com gente
louca”, Alice observou.
“Oh! É inevitável”, disse o gato.
“Somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca”.
O
gato risonho sabe exatamente o que é e qual seu papel no mundo e pra mim
representa a certeza de quem somos, que temos de ter em meio a tanta mudança,
em a tanta loucura. – Somos loucos? Então agiremos como loucos sem perder nossa
habitual sanidade.
Há
ainda a Lebre e o Chapeleiro, quanto mais falo dos
personagens mais tenho vontade de não parar de escrever. Para mim a Lebre e o
Chapeleiro são os mais normais de todo o livro. Pode parecer estranho, mas no
País das Maravilhas os que mais vestem os papéis de loucos são esses dois e, em
um louco, o mais normal só pode ser o mais louco. Para mim, estes são o melhor
meio de expressar a grande afeição pela lógica e matemática do autor. As
charadas do Chapeleiro são repletas de uma simbologia que só Carroll poderia
escrever.
E
por fim a Rainha de Copas. Este livro
é datado da era vitoriana, embora eu creia que a Rainha de Copas não possa
retratar uma das maiores representantes políticas de toda uma era, porém, tenho
que concordar que a melhor maneira de apresentar a autoridade matriarcal de “líder”
de um país “louco” é pondo em “fúria” suas manhas e crenças; além do medo
exagerado nas mudanças e coisas que contrariam a vontade da rainha, que também
lembra o conservadorismo da Rainha Vitória em relação à família e burguesia – o
que explica o tamanho medo e fidelidade do Coelho Branco para com sua rainha –
e todo o amor de um povo é também representado pelo receio que o mesmo tem de
contrariar a “autoridade” do País das Maravilhas: sua rainha louca.’
Eu
odeio resumir uma história tão repleta de acontecimentos e depois de
analisa-los numa visão mais crítica. É
por isso que não há resenhas minhas até então. Mas também não gosto de
SPOILERS então não haverá um resumo completo de todo o livro – LEIAM <3 –
Enfim... Como estou resenhando e o Arquipélago já vem com seu padrão de separar
pontos positivos e negativos, não mudarei as coisas por aqui.
PONTOS NEGATIVOS
Não
vejo neste livro uma grande profusão de pontos negativos, mas há quem diga que
é um livro complicado. Talvez pela falta de sentido no contexto da história –
Se você for um leitor tradicional e cético demais, deixa Alice no País das
Maravilhas na estante em que encontrou. Outro ponto importante de se ressaltar
é a grande quantidade de pensamentos filosóficos – Não acho isso um ponto
negativo – que pode auxiliar no processo de confusão do leitor que “não se
permite”.
Um
ponto que pode ser claramente considerado negativo é a “violência” contida
neste livro, incorporada na Rainha de Copas e suas constantes ordens de decapitação.
A frase mais característica dessa personagem e que todos lembram é: “Cortem-lhe
a cabeça”; remete a uma grade aura de raiva e fúrica, porém na época em que foi
escrito, esta frase não chocou nem as crianças que tinha acesso, mostrando
apenas que os leitores vitorianos não se impressionavam com cenas de violência,
sendo advertidos apenas adultos fora das devidas faculdades mentais.
Outro
ponto que merece uma atenção é o surgimento de possíveis analogias e críticas
que podem surgir do leitor tradicional, tais como: incentivo a pedofilia. Isso
não vem do conteúdo do livro em sim, mas do fato da cãoiração do autor por
garotinhas entre sete e doze anos de idade e apreço especial por Alice Liddell,
inspiração para o livro e para Alice no País do Espelho.
Fora
estes pontos, não vejo nenhum em grande relevância que possa fazer o leitor
desistir do livro. Até por que ele cativa logo nas primeiras linhas.
PONTOS POSITIVOS
Já
elogiei muito o livro ao decorrer do texto, mas agora vêm os pontos que
realmente devem ser destacados.
O
principal ponto positivo a ser considerado é que não é nada monótono. Apesar de
ser literatura nonsense, o livro é muito bem estruturado e tudo ocorre dentro
de uma cronologia. O leitor não fica um momento sequer no tédio corriqueiro e
nem se perde no espaço-tempo da história, há menos que esta seja a intenção do
capítulo. Outra coisa que é válida de ser ressaltada é a facilidade para a
leitura. O livro sem i tem uma linguagem leve e de fácil compreensão, que pende
ainda mais que o ler.
E
como citei apenas três pontos negativos, vou me limitar a citar apenas três
pontos positivos, tendo como o último ponto a ênfase na quantidade de
conhecimento que pode ser extraído desta leitura, mérito apenas do autor da
obra, que impregnou a mesma como sua paixão por lógica e matemática, em cada
advinha e charada.
“Dez
horas no primeiro dia, nove no seguinte, e assim por diante”. Alice responde: “Nesse
caso, no décimo-primeiro dia era feriado”. Ela está certa.
(Capítulo
Nove – Diálogo entre Alice e o Grifo).
-
Se você conhecesse o Tempo tão bem quando eu – o Chapeleiro falou –, não usaria
a palavra desperdício para se referir a ele. Ele não é qualquer um.
(Página
113)
Além
do amadurecimento contido e expresso em metamorfoses de uma garota de 8 anos
que passa por vários estágios até a chegada da puberdade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alice
no País das Maravilhas deve ser um livro que tem que fazer parte da vida de uma
pessoa desde a infância. É realmente muito lindo e divertido. Repleto de
canções, poesias e histórias, oferece uma leitura tranquila e uma narrativa
rica que somente Lewis Carroll pode oferecer dentro desde gênero. É sem sombra
de dúvidas um livro que não pode faltar na coleção de qualquer um apaixonado
por literatura de qualidade.
O
livro já rendeu milhares de cópias e já foi para as telinhas, sendo lançado a
primeira em uma curta-metragem no ano de 1903. Logo depois teve muitas versões
em animações, sendo a mais famosa lançada em 1951 pela Walt Disney. Além de
filmes lançados desde 1912, tanto Alice no País das Maravilhas e Alice no País
do Espelho tiveram inúmeras versões televisionadas até então.
Em
2009 foi lançada uma minissérie com apenas dois episódios na SyFy e o filme atual,
Alice no País das Maravilhas lançado em 2010, fora a versão feita em Once Upon a Time “in Worderland”, série
do canal ABC. Em breve, mais precisamente em 2016, será lançada uma nova versão
de Alice no País do Espelho (ou Alice 2) que eu aguardo com muita ansiedade.
A
eterna obra de Carroll também carrega um quê de crítica ao cenário poético
tradicional da época despertando o humor absurdo ao poema clássico, isso é uma
coisa que me faz amar Alice no País das Maravilhas e indica-lo a quem quer que
seja.
Agora...
Quanto a pergunta inicial, andaram refletindo? Sabem a resposta para a
conhecida “charada sem resposta”? Muitos autores buscaram respostar para até
que o próprio Carroll respondeu: “Porque podem produzir algumas notas apenas de
muito planas, e nunca são colocados com o lado errado para frente”. Isso não
impediu dos muitos leitores buscarem uma resposta própria para pergunta até
hoje... E você? Já sabe por que um corvo se parece com uma escrivaninha?
Depois
de muito “falar”, resta para as considerações finais insistir que vocês leiam e
viagem na Alice para um país maravilhosamente incrível.
DESCULPEM
A EMPOLGAÇÃO EXAGERADA. ESPERO QUE TENHAM GOSTADO E QUE EU TENHA LEVADO UM
POUCO DE CURIOSIDADE E LOUCURA AS SUAS VIDAS HOJE.
ATÉ
A PRÓXIMA
MAL FEITO, FEITO
LET